O que é mais eficiente para a memorização de estudos – anotar ou digitar?

Olá, queridões! Espero que todos estejam bem.

Em tempos tão modernos e com tantas tecnologias, será que ainda faz sentido usarmos cadernos, lápis ou caneta para anotar conceitos e realizar exercícios?

Qual técnica é a mais eficiente para a memorização de estudos – anotar à mão ou digitar?

Com o acesso a notebooks, tablets e celulares não seria mais lógico deixarmos os alunos utilizarem os teclados para agilizar o processo de registro das aulas?

Eu, particularmente, não acredito nisso. Sempre achei que se o aluno fizer suas próprias anotações, escrevendo-as em um caderno, à caneta ou lápis, ele conseguirá gravar e recuperar melhor os conceitos apresentados.

Imaginem então o quão feliz fiquei ao ler o estudo publicado na Frontiers in Psychology que monitorou a atividade cerebral em um grupo de estudantes que tomavam notas das duas formas (à mão ou digitando).

E chegaram a conclusão que anotar informações pode ser mais eficiente do que digitá-las.

Apresentando a pesquisa

A resposta para a pergunta “O que é mais eficiente para a memorização de estudos – anotar à mão ou digitar?” teve contribuições importantes a partir da pesquisa realizada por Audrey Van der Meer e Ruud Van der Weel, da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU).

Ela mostrou que os alunos que escreviam à mão tinham níveis mais elevados de atividade elétrica de regiões cerebrais, ativando uma gama de regiões interligadas responsáveis pelo movimento, visão, processamento sensorial e memória.

E somam-se a um conjunto crescente de evidências que fazem com que muitos especialistas falem sobre a importância de ensinar as crianças a escrever palavras e fazer desenhos, como pode ser visto aqui.

Em primeiro lugar, o estudo norueguês levantou a hipótese de que as pessoas que faziam anotações no computador digitavam sem pensar.

Veja a opinião da professora de neuropsicologia da NTNU Van der Meer:

“É muito tentador digitar tudo o que o professor está dizendo. Isso meio que entra pelos ouvidos e sai pelas pontas dos dedos, porém você não processa as informações que chegam. Quando você digita no teclado, você faz apenas movimentos muito simples com os dedos em direção às teclas e são exatamente os mesmos movimentos para qualquer letra que escrever.”

Audrey Van der Meer – Pesquisadora Norueguesa

Ao fazer anotações à mão, muitas vezes é impossível anotar tudo. Assim, os alunos precisam prestar atenção às informações que chegam, devendo processá-las de uma forma ativa, consolidando-as e tentando relacioná-las com aquilo que aprenderam antes.

Esta ação consciente de desenvolver o conhecimento existente pode tornar mais fácil permanecer engajado e compreender novos conceitos.

Mais Detalhes

Para investigar como a escrita e a digitação diferem em seus efeitos no cérebro a equipe recrutou 36 estudantes na faixa dos 20 anos. Os alunos tinham pequenos eletrodos colocados na cabeça para monitorar os sinais elétricos do cérebro.

A equipe então exibiu 30 palavras em uma tela na frente dos participantes (como rei, ouriço e guarda-chuva, por exemplo), sendo que metade das palavras foram escritas à mão pelos participantes e o restante digitado.

Para todos os participantes, escrever à mão levou a um aumento na conectividade entre as partes centrais do cérebro e o lobo parietal na parte externa do cérebro, o que não aconteceu com a digitação. Van der Meer diz:

“A escrita utiliza mais sentidos e o corpo está mais envolvido. Isso significa que uma parte maior do cérebro está ativa e é preciso haver comunicação entre essas partes ativas.”

Audrey Van der Meer – Pesquisadora Norueguesa

Todos os participantes eram destros e foram orientados a usar apenas esta mão ao digitar ou escrever.

Pois o objetivo era tornar os resultados mais fáceis de interpretar e assim evitaria o cruzamento entre os dois hemisférios do cérebro, com o córtex motor direito controlando os movimentos da mão esquerda e o córtex motor esquerdo controlando os movimentos da mão direita.

Porque acho que anotar ajuda na memorização de estudos?

Antes de ler este estudo já havia começado a solicitar dos meus alunos de graduação, do curso de análise e desenvolvimento de sistemas, anotações à mão de muitas de nossas tarefas, tais como resolução de questionários a respeito dos conceitos apresentados, layouts de telas a serem construídas, (tanto em aplicativos, quanto em websites) e storyboards. Imaginem agora!

Abaixo apresento alguns registros dessas produções em uma turma de graduação com 20 alunos no curso de análise e desenvolvimento de sistemas:

Memorização de Estudos - escrevendo respostas a mão

Confesso que a parte mais difícil foi mostrar aos alunos a importância dos registros à mão, ainda mais, em um curso onde a tecnologia é base e ferramenta obrigatória para o desenvolvimento de sistemas.

Mesmo assim, com paciência e perseverança, acabei conseguindo engajar todos os alunos da turma, tendo resultados acima das expectativas iniciais, principalmente com o capricho e profissionalismo deles em suas entregas.

Memorização de Estudos - escrevendo esquemas a mão

Paramos de escrever com papel e caneta?

Notei que, atualmente, os alunos não estão mais acostumados a escrever com papel e caneta (ou lápis), uma vez que muitos deles nem trazem tais materiais para a aula.

Constroem seus registros e tarefas diretamente nos computadores, com softwares simples como editores de texto, ou mais complexos, como Miro, Trello ou Google Docs com armazenamento na nuvem. Logo, tive que “ensiná-los” novamente a escrever à mão em folha de papel. E como fiz isso?

Simplesmente distribui folhas e uma caixa com canetas e lápis e escrevi junto com eles as primeiras cinco respostas do questionário em dois formatos, “letra emendada” e “letra de forma”. Esse tipo de descrição acabou de denunciar minha idade (sim, cresci nos anos 80), mesmo porque agora falam em letra cursiva e de imprensa.

Depois de “me expor”, para cada nova aula criamos o hábito de entregarmos algum tipo de tarefa (não todas!) na forma manuscrita em papel, de preferência à caneta, para retomar uma habilidade que caiu em desuso nos “alunos grandes”.

Notei que a perda dessa habilidade começa já a partir do ensino médio.

Mesmo porque atualmente há muitos recursos tecnológicos para fazer anotações, bem como os livros didáticos podem ser entregues também no formato digital.

Memorização de Estudos - escrevendo storyboards a mão

Quero ver como os alunos deste curso se sairão nas próximas avaliações, já adiantando que acredito que haverá um acréscimo em termos de notas.

Preciso desses resultados para avaliar como esta tarefa contribuiu na memorização de estudos e qual eles preferiram – anotar ou digitar?

Em outras palavras, pelos registros fotogŕaficos podemos ver que os alunos ainda sabem escrever à mão, e para nossa surpresa, escrevem muito bem.

Além disso, avaliei todas estas entregas, compondo uma parte significativa da nota final do semestre, valorizando todo o esforço empreendido pelos estudantes.

Passo a Passo para Aplicação de Anotações Manuscritas

Para concluir o post, segue um passo a passo para auxiliá-los na construção de entregas em formato manuscrito:

  1. Explique a necessidade de escrevermos à mão com argumentos que convençam os alunos (esses estudos são ótimos exemplos de como “ganhar os alunos”);
  2. Mostre aos alunos como fazer de uma maneira que também os convença. Faça junto com eles e mostre suas vulnerabilidades (letra “feia” ou “homens-palito) para que entendam que o professor também pode errar ou fazer algo simples;
  3. Torne um hábito essas entregas, é melhor cobrar uma entrega pequena em várias aulas, do que uma grande entrega apenas em um ou dois momentos.
  4. Trabalhe em conjunto com outros professores, afinal de contas, quanto mais registros os alunos fizerem, melhor eles se tornarão;
  5. Valorize as construções de cada um de seus alunos, mostrando a importância da organização e legibilidade no processo de anotações;
  6. Avalie cada entrega, utilizando-as como a composição da nota final.

Finalizando

Em tempo, vocês podem acessar este link que apresenta o estudo citado no começo do post. E aqui podem acessar o artigo original em inglês.

Os alunos que participaram do estudo norueguês, realizaram suas anotações manuscritas com caneta digital num tablet e com letras cursivas. Ainda assim, os especialistas asseguram que o processo cognitivo de registrar em folha de papel à caneta é idêntico, portanto não influenciou nos resultados finais.

Além desse estudo, voceŝ poderão ler um excelente artigo da Scientific American ligando essa pesquisa a outras similares que estão sendo desenvolvidas por diferentes equipes.

Acredito que vários de vocês utilizam esse recurso didático e gostaria de saber de suas experiências e vivências.

Portanto, contribuam conosco apresentando o que vocês já construíram, ou mesmo, relatando suas dúvidas quanto a este assunto.

Estamos ansiosos por suas contribuições e opiniões sobre o que é melhor para a memorização de estudos – anotar ou digitar?

Um abraço e até o próximo post!

2 comentários em “O que é mais eficiente para a memorização de estudos – anotar ou digitar?”

  1. Professor, sou pedagoga e alfabetizei por 12 anos. Tenho uma discussão muito ferrenha acerca da letra cursiva ou script no processo de alfabetização, mas nunca questionei o processo de escrita como forma de reforçar a aprendizagem. Parabéns pelo seu texto, mas parabéns em especial por usa coragem de ir na contramão dos tempos tecnológicos.

    • Muito obrigado pela contribuição, profe Jozilda. Suas palavras nos encorajam a dar continuidade no projeto do blog. Mesmo que eu ensine tecnologia há mais de 15 anos, como professor de matemática tenho tido experiências diárias de que ler e escrever ainda são excelentes ferramentas para a aprendizagem.

Os comentários estão encerrado.