A versão original deste post (em inglês) pode ser lida aqui.
Betsy Corcoran, ex-CEO da EdSurge, nos comentários da minha última postagem sobre as limitações de ensinar como entretenimento:
Há muito penso que há uma diferença entre educadores que são fundamentalmente fascinados por conteúdo quando comparados com aqueles fascinados por alunos. Os entusiasmados pela matéria são grandes pesquisadores (que acabam lecionando); os mais interessados nos alunos são professores maravilhosos e tem potencial para ensinar qualquer coisa.
Betsy Corcoran
Tenho uma certa tendência a pensar que é verdade que professores são instintivamente mais propensos para um do que para outro – o conteúdo ou os alunos. No entanto, esta não é uma condição permanente.
Esta semana, estou no recesso da primavera, então aproveitei a oportunidade e compartilho o prefácio que escrevi para um livro descrevendo qual dos amores me trouxe para o ensino e a necessidade de amar o outro o mais rápido possível.
Quando eu voltar, conversaremos sobre coisas como o chatbot LAUSD, uma nova pesquisa sobre professores e IA generativa, e também algumas orientações úteis do MIT para educadores.
Por que você se tornou professor de matemática?
Talvez você gostasse de matemática. Talvez você fosse bom em matemática, bom, pelo menos naquilo que você chamava de matemática na época. Amigos e familiares vinham até você para pedir sua ajuda com a lição de casa ou com os estudos, e você se orgulhava não apenas de explicar o como das operações matemáticas, mas também o quando e o porquê, ajudando os outros a verem um propósito e uma aplicação na matemática.
Ajudando outras pessoas a entender e amar a matemática que você entendia e amava — talvez pudesse ser uma boa maneira de passar alguns anos de sua vida.
Ou talvez você adorasse crianças. Talvez você, mesmo em tenra idade, fosse um cuidador eficaz e soubesse como cuidar além das necessidades tangíveis de outras pessoas. Você ouvia e fazia com que essas pessoas se sentissem ouvidas. Você prestava atenção e valorizava as pessoas. Você entendia em qual momento de suas vidas as pessoas estavam e como certas perguntas ou observações poderiam impulsioná-las para outros lugares.
Passar algumas décadas ajudando as pessoas a se sentirem ouvidas e ajudando-as a usar e liberar sua tremenda capacidade – talvez você tenha imaginado que essa seria uma maneira válida de gastar suas horas entre 7h e 17h todos os dias.
Ou talvez, além de matemática, você também adorasse crianças. Claro, talvez seja possível que nenhum dos dois exemplos de professores anteriormente apresentados representam aquilo que o tenha levado a ensinar matemática, embora um deles fale plenamente sobre o meu. No entanto, no meu trabalho com professores de matemática, descobri que muitas vezes eles extraem a sua energia profissional apenas de uma fonte ou de outra, dos conteúdos da matemática ou dos seus alunos.
Me frustrei durante vários anos no ensino de matemática — e anos de trabalho com outros professores — até perceber que cada uma dessas fontes de energia é vital. Nenhuma fonte é renovável sem a outra.
Se você extrair sua energia apenas da matemática, seus alunos poderão se tornar abstrações e intercambiáveis. Você pode se convencer de que é possível influenciar o que eles sabem sem se preocupar com quem eles são, que é possível tratar seu conhecimento como algo deficiente e que precisa ser corrigido, sem arriscar consequências negativas para sua identidade. Mas os alunos sabem melhor. A maioria deles entende quando o adulto da sala se posiciona como detentor de todo o conhecimento e trata os alunos na sala como ignorantes. O amor e a compreensão de um professor pela matemática não o ajudarão quando os alunos entenderem que seu professor se preocupa menos com eles do que com números e variáveis, modelos de barras e gráficos, definições precisas e argumentos dedutivos.
Já, se você extrair sua energia apenas dos alunos, a matemática do dia poderá se tornar intercambiável com a de qualquer outro dia. Poderá parecer um ato de cuidado deixar os alunos passarem pela matemática que eles consideram frustrante em alguns dias, ou evitar completamente alguns assuntos noutros dias. Mas a matemática que você evita em um dia é fundamental para a matemática de outro dia ou de outro ano. Os estudantes terão de pagar essa conta mais tarde, com juros compostos. Seu amor e carinho pelos seus alunos não irão protegê-los da frustração que muitas vezes é fundamental para o aprendizado.
Eu poderia lhe dizer que a única solução prática para esse problema é desenvolver um amor pelos alunos e um amor pela matemática. Eu poderia relacionar inúmeros clichês e chavões que confirmam essa verdade. Talvez eu até conseguisse convencer alguns de vocês a acreditarem em mim.
Mas o lugar-comum que mais vejo neste momento é que agimos mais de acordo com nossas crenças do que entramos em ação. Portanto, encorajo você agora, mais do que qualquer coisa, a adotar uma série de ações produtivas que possam remodelar suas crenças.
Aqui estão cinco ações possíveis: antecipar, monitorar, selecionar, sequenciar e conectar.
Essas ações, inicialmente propostas por Smith e Stein em 2011 e habilmente ilustradas aqui com videos da sala de aula, depoimentos de professores e exemplos de trabalhos de alunos podem converter o amor de um professor pela matemática em amor pelos alunos e vice-versa, para agir de acordo com a crença de que a matemática e os alunos são importantes.
Para os professores motivados por um amor aos alunos, essas cinco práticas convidam o professor a aprender mais matemática. Quanto mais os professores de matemática souberem, mais fácil será para eles valorizarem a maneira como seus alunos pensam. Seu conhecimento matemático permite que eles monitorem esse pensamento menos por correção e mais por interesse. Apresentar o pensamento deste aluno provocaria uma conversa interessante com a turma, independentemente da resposta circulada estar correta ou não? O conhecimento matemático de um professor permite-lhe conectar uma ideia interessante de um aluno com a de outro. Seu conhecimento matemático ajuda a conectar os pensamentos dos alunos e ilustrar o enorme valor de suas ideias.
Para professores como eu, que são motivados pelo amor pela matemática, professores que querem que os alunos também amem a matemática, essas cinco práticas dão-lhes uma base lógica para compreenderem os seus alunos como pessoas. Os alunos não são uma tela em branco na qual os professores podem projetar e traçar o seu próprio conhecimento. É o aluno que faz esse significado. Não é transferido pelo professor. Quanto mais os professores amam e desejam proteger ideias matemáticas interessantes, mais deverão querer saber qual significado seus alunos estão atribuindo a essas ideias. Essas cinco práticas me ajudaram a conectar as ideias dos alunos às ideias matemáticas canônicas, ajudando-os a reconhecer o valor de ambas.
Nem apenas o amor pelos estudantes, nem apenas o amor pela matemática podem sustentar o trabalho da educação matemática por si só. Trabalhamos com “estudantes de matemática”, uma combinação de suas ideias matemáticas e de suas identidades como pessoas. As cinco táticas propostas para organizar discussões matemáticas produtivas e colocá-las em prática oferecem ações que podem manter e desenvolver a crença de que a matemática e os alunos são importantes.
Você pode pensar que o seu caminho para o ensino se deve ao amor pela matemática ou ao amor pelos alunos. Mas este é um caminho único, mais amplo do que você imagina, que oferece passagem para mais pessoas e mais ideias do que você inicialmente imaginava ser possível. Este livro ajudará você e seus alunos a aprenderem a percorrer esse caminho.
Gostaríamos de agradecer ao professor Dan Meyer por nos autorizar a traduzir seus posts para o português e apresentá-los aqui no blog, fazendo com que suas ideias e experiências alcancem mais professores brasileiros, derrubando a barreira do idioma.
Dan Meyer ensinou matemática no ensino médio para alunos que não gostavam de matemática. Ele defendeu um melhor ensino de matemática na CNN, no Good Morning America, TED.com e Everyday With Rachel Ray, também e é autor do blog dy/dan. Tem doutorado em educação matemática pela Universidade de Stanford e é Diretor Acadêmico da Desmos, onde explora o futuro da matemática, da tecnologia e do aprendizado. Dan fala internacionalmente e foi nomeado um dos 30 Líderes do Futuro da Tech & Learning. Ele mora em Oakland, CA.
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Um abraço e até o próximo post.